A AJ, filha de uma menina que ao longe vi crescer e que está agora a começar o seu caminho pela felicidade.
A mudança, capaz de nos envolver nos seus tentáculos e nos levar ao inimaginável.
A esperança, que nos embala e faz balão de oxigénio quando parece que o sopro é o último.
A vontade, que vem não sabemos às vezes de onde, mas sem a qual só conseguimos ficar na cama.
O amor, na sua forma caleidoscópica.
Embora a tristeza seja a musa dos poetas, há alturas em que o nó no coração aperta as palavras.
Ainda bem que há vozes que falam por nós e que apesar de não conseguirmos traduzir o que sentimos, podemos ler nas palavras dos outros algo que nos mostra que não estamos sós.
(retirado de http://www.umamoratrevido.blogspot.com/)
"Quando nada me dizes, acho que morro. Fico como que jogada aos bichos, órfã de sentido e de razão, arrimada para os cantos da vida, o corpo doente em fase terminal. Quando nada me dizes, não como, não durmo, e forma-se-me cá dentro um rolo de gritos calados, nos pulmões, na garganta e contra as paredes do estômago, quimo e quilo, quimo e quilo, num centrifugar desesperado. Quando nada me dizes, procuro abrigo e fico quieta, muito quieta, no silêncio infernal do olho de um furacão, na angústia iminente do cataclismo nuclear, parada e espelhada, como o rosto do oceano que anuncia a tempestade. Vou sem rumo e sem norte, por ruas que não sei o nome, sem reparar nos carros, nos outros, nas montras, não sei se nos saldos se já colecções de verão, não sei se tudo mais caro, se a crise, se a inflação. Quando nada me dizes, compro o jornal mas não quero saber de nada no mundo, só leio o horóscopo para descobrir se além dos cuidados com as finanças e com a alimentação, a semana me será especialmente favorável aos desígnios do amor, do meu amor. Quando nada me dizes, entro num modo vegetativo de estar, há um piloto automático que me guia o coração levando-o a lado nenhum, mas que me mexe os braços e as pernas, me articula os sons e as palavras e me forma sorrisos na cara, para que os outros não percebam que por dentro me resta apenas um sopro de vida, uma fímbria de alento e uma bola calada de gritos enrolados."
Não te busquei, não te pedi: vieste.
E desde que eu nasci houve mil coisas
que a meus olhos se deram com igual
simplicidade: o Sol, a manhã de hoje,
essa flor que é tão gracil que a não quero
o milagres das fontes pelo Estio...
Vieste (O Sol veio também, a flor,
a manhã de hoje, as águas...). Alegria,
mas calada alegria, mas serena,
entendimento puro, natural
encontro, natural como a chegada
do Sol, da flor, das àguas, da manhã,
de ti, que não buscara nem pedira.
E o Amor? E o Amor? E o Amor?
- Vieste
Sebastião da Gama